quarta-feira, 11 de novembro de 2009

TROVADRISMO

O TROVADORISMO (1189 (ou 1198?) – 1385) Cantiga

Dizia la fremosinha:
“ai, Deus, val!
Com’estou d’amor ferida!
ai, Deus, val!”

Dizia la bem talhada:
“ai, Deus, val!
Com’estou d’amor coitada!
ai, Deus, val!

Com’estou d’amor ferida!
ai, Deus, val!
Nom vem o que bem queria!
ai, Deus, val!

Com’estou d’amor coitada!
ai, Deus, val!
Nom vem o que muit’amava!
ai, Deus, val!”
D. Afonso Sanches

Vocabulário
Fremosinha – formosinha
Ai, Deus, val! – ai, valha-me Deus!; ai, Deus me ajude!
Bem talhada – bem-feita, elegante, bonita
Coitada – infeliz, cheia de sofrimento amoroso

D. Afonso Sanches – Trovador do final do século XIII e início do VIV. Filho bastardo do rei D. Dinis com sua amante favorita, D. Aldonça Rodrigues da Telha. Deixou-nos 15 cantigas, nas quais, segundo J. J. Nunes, se revelou verdadeiro poeta.

Você deve ter achado muito estranha a linguagem desta cantiga. Não é para menos: ela foi composta há quase sete séculos. Nessa época (século XIV), a língua portuguesa ainda não existia. Falava-se em Portugal o galego-português, que, no século XV, dará origem a duas línguas distintas: o galego e o português.
Uma vez decifrado o vocabulário, fica muito evidente a principal característica da cantiga: a simplicidade. Seu autor, o trovador D. Afonso Sanches, era filho bastardo do rei D. Dinis, que também era trovador. Sua ascendência nobre não impediu D. Afonso Sanches de compor uma cantiga nos moldes da tradição popular.

A reação do leitor do século XX diante dos textos medievais é dupla e contraditória. Em primeiro lugar, no caso dessa cantiga, estranhamos a própria língua, o galego-português. Freqüentemente, entretanto, a estranheza que sentimos diante do texto medieval é muito mais profunda. A voz que conta os sofrimentos